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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Acontecimentos no ano de 1808-6ºparte

  • Deslocação de Loison em direcção ao Porto
No dia 17 de Junho, o general Loison sai de Almeida em direcção do Porto, comandando uma pequena força militar, com o intuito de restabelecer a situação. No dia 21 de Junho, força de Loison, tendo passado o rio Douro na Régua, é atacada por membros das Milícias e das Ordenanças de Trás-os-Montes, nos Padrões de Teixeira, perto de Mesão Frio.

O ataque fez com que a força que dirigia atravessasse precipitadamente o rio e recuasse para Lamego, sendo obrigado a regressar a Almeida.

  • Levantamento de Coimbra
Estudantes vindos do Porto chegaram a Coimbra no dia 23 de Junho e logo fomentaram o levantamento contra as forças napoleónicas ocupantes. Tomou-se o aquartelamento francês alojado no Colégio de São Tomás (actual Palácio da Justiça), foram descobertos os brasões do reino na Câmara Municipal e Mosteiro de Santa Cruz e iniciou-se o fabrico de munições no Laboratório Químico da UC.
Depois os estudantes organizaram-se em torno do estudante Bernardo Pereira Zagalo e marcharam de Coimbra para o Forte de Santa Catarina na Figueira da Foz.
Zagalo arregimentou 40 praças, sendo 25 estudantes voluntários e, na tarde de 25 de Junho de 1808, avançou em direcção a Tentúgal e Montemor-o-Velho.

Com os povos vindos de Coimbra, Tentúgal, Carapinheira e Montemor, armados com foices, pás, enxadas e forquilhas, o destacamento atingia 3.000 homens quando na tarde de 26 de Junho se começou a abeirar do Forte de Santa Catarina.

Zagalo não foi o único oficial a distinguir-se. No levantamento das populações desempenhou papel de relevo o sargento António Cayolla. A Torre da UC funcionou como centro de emissão de mensagens, através de toques de sinos (nesse tempo os sinos ouviam-se até Tentúgal!) e de fogueiras acesas no topo.

A rendição do forte ocorreu no dia 27 de Junho de 1808, com Zagalo coroado de glória. As operações militares não terminaram com a conquista do Forte de Santa Catarina. O Batalhão Académico avançou para sul, tendo libertado Soure, Condeixa, Pombal, Leiria e Nazaré.


Fonte : Guitarra de Coimbra

  • Criação de Juntas da Inconfidência

Em Junho de 1808, num contexto de reacção contra a presença do ocupante francês, sem um centro político orientador, cabe à iniciativa local, através do seu braço popular ou das autoridades e dos corpos sociais preponderantes das terras, iniciar um movimento restaurador com vista à substituição das autoridades francesas.

Deste movimento restaurador, surgido com maior ou menor espontaneidade, nascem novas instituições que assumem funções essencialmente relacionadas com a defesa do território. Surgindo em terras de maior proeminência social e política cedo se aliam em torno da direcção unificadora da Junta Provisional do Governo Supremo, sediada no Porto, que procurou ter uma acção política a nível de todo o território continental até à reposição do Conselho de Regência.

Surgem assim na Província do Minho, mas também em Trás-os-Montes, as Juntas, sobretudo nas terras cabeças de comarca, Valença, Braga, Guimarães, Barcelos, Vila Real, Torre de Moncorvo, Miranda do Douro, ou sedes de governos militares de cariz provincial, Viana e Bragança e na cidade do Porto, onde se vai estabelecer uma Junta Suprema. Em muitos concelhos, sobretudo com assento em Cortes, vão também surgir governos políticos em forte articulação com os governos administrativos camarários, que agregam às câmaras representantes dos três braços da Nação, clero, nobreza e povo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Acontecimentos no ano de 1808-5ºparte

  • Novo governo formado no Brasil

Três dias depois do desembarque foi constituído o novo ministério sendo D.Fernando José de Portugal e Castro o marquês de Aguiar, antigo governador da Baía e antigo vice-rei do Brasil, foi nomeado ministro e secretário de Estado dos Negócios do Reino, Rodrigo de Sousa Coutinho, conde de Linhares, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, salientando-se o afastamento de António de Araújo Azevedo de acordo com o alinhamento político para com a Inglaterra sendo este ministro considerado demasiadamente aberto as posições francesas.

A questão entretanto colocado foi a da instalação de tão numerosa comitiva, que conduziu a verdadeira onda de desocupação dos proprietários que naturalmente causou grande indignação e descontentamento , levando a que houvesse desde logo uma medida régia de fomento de construção em terrenos não aproveitados, estabelecendo isenções ou reduções de décima.

  • A conquista da Guiana francesa
Na sequência da declaração de guerra à França em que se anulavam todos os tratados anteriores entre os dois países, a justificação para a conquista da Guiana era de origem defensiva do litoral brasileiro, dada a relativa proximidade daquela colónia francesa.

Com o apoio duma força naval inglesa, organizou-se uma expedição sob o comando do tenente-coronel Manuel Elvas Portugal, ocupando em Novembro a capital Caiena que capitulou face ao cerco a que esteve sujeito. Embora em Janeiro do ano seguinte se tenham assinado os termos da posse da Guiana por Portugal o certo é que nunca aquele território foi declarado oficialmente como fazendo parte do território nacional.

D.João viria em 1817 abandonado a Guiana após novo acordo com a França, após tentativa de troca com Olivença

  • A revolta no Algarve

Em finais de Maio, ao mesmo tempo que Loison tinha sido enviado para Almeida, uma outra força francesa tinha sido enviada para Alcoutim sob o comando do general de brigada Avril.

Sevilha revoltou-se no dia 26 de Maio, tendo-se organizado uma junta de governo que entregou o comando das forças militares ao general Castaños, comandante do Exército Espanhol , cujo quartel-general era em Algeciras.

Em 10 de Junho, devido aos acontecimentos do Porto, e preparando-se para que o mesmo acontecesse no sul, as forças de Avril e de Maurin foram recolocadas por ordem do general Junot. Ao general Avril foi ordenado que ocupasse Estremoz e Évora, e mandasse um batalhão do Regimento de Infantaria n.º 86 para Elvas.

Ao coronel Maransin, comandante da Legião do Sul, que supria as funções do general Maurin, doente em Faro, que substituísse as forças de Avril em Mértola e Alcoutim e que defende-se o Algarve com o batalhão do Regimento de Infantaria Ligeira n.º 2616.

Era uma decisão controversa já que ao substituir as tropas de Avril, veteranas, pelas de Maurin, pouco fiáveis, abandonava qualquer ideia de apoio à expedição de Dupont, e ao manter um único batalhão no litoral algarvio, permitia a revolta da população contra a ocupação.

De facto, no Algarve, a sublevação começou oficialmente no dia 16 de Junho, dia do Corpo de Deus, em Olhão, sob a direcção do coronel José Lopes de Sousa, governador da praça de Vila Real de Santo António.

Mas a revolta desenvolvia-se desde pelo menos o dia 12 de Junho, véspera do dia de Santo António, possivelmente devido ao conhecimento que se teve em Tavira da revolta do Porto, informação trazida por dois barcos que pescavam naquelas águas.

A actuação dos revoltosos de Olhão, no dia 18, promoveu a revolta de Faro do dia 19 de Junho de 1808, dirigida por oficiais do Regimento de Artilharia n.º 4 (de Lagos).

As tropas francesas começaram a abandonar o Algarve a partir do dia 21 de Junho concentrando-se em Mértola. A coluna francesa chegou a Beja no dia 26 já bem longe do Algarve e sobretudo bem longe da Andaluzia.

Nesta província a luta contra as forças militares francesas continuava como em todo o território espanhol.

Os oficiais britânicos continuavam sem perceber o que se passava em Portugal, muito menos as movimentações das forças francesas, não tendo as forças navais nem as forças terrestres britânicas qualquer influência no decorrer da revolta algarvia e muito menos da andaluza.

O que se passou foi que a revolta das províncias do Norte de Portugal tinha obrigado o comando francês em Portugal a modificar o dispositivo das suas forças, fazendo-o abandonar a ideia de apoiar as forças francesas em Espanha.

A revolta do Algarve permitiu, contudo, que o exército de Castaños não tivesse que se preocupar com a sua retaguarda, quando avançou contra Dupont, em 27 de Junho, já que as forças francesas estacionadas no Algarve tinham abandonado o reino em 21 de Junho.

A ligação entre as diferentes acções militares em todo o espaço ibérico foi uma constante desde o princípio da Guerra.

Referência : O portal da História

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Acontecimentos no ano de 1808-4ºparte

  • Levantamento de Bragança dirigido pelo general Manuel Jorge de Sepulveda
Eram 5h da tarde de 11 de Junho quando, em Bragança, Madureira Cirne, abade de Carrazedo, recebeu em casa uma carta dando conta da revolta no Porto, informação que passou aos presentes, o cónego da Sé Catedral, Bento José de Figueiredo Sarmento, o bacharel Pedro Álvares Gato, o médico António Afonso Dias Veneiros e outros; logo ali se formulou a intenção de agir, exclamando a abade Madureira Cirne “«é tempo de sacudirmos o jugo francês! Viva o Príncipe Regente»

. Entusiasmado, contacta o capitão Bernardo de Figueiredo Sarmento, do Regimento de Infantaria 24, o governador do bispado, Paulo Miguel Rodrigues de Morais, e o sargento-mor de milícias, Manuel Ferreira de Sá Sarmento. Todos manifestam vontade de um levantamento em armas na cidade contra os franceses, disponibilizando-se, de imediato, a agrupar soldados, milicianos e populares para o efeito, que são encaminhados para a frontaria da Igreja de São Vicente.

Impunha-se aliciar um oficial com o prestígio e a influência necessárias para organizar e comandar a «turba» que se ia juntando. E quem melhor que o jovem general Manuel Sepúlveda, de 73 anos e governador militar provincial?

Este, que se encontrava no interior da Igreja a assistir à tercena de Santo António, aceita o encargo, posiciona-se no cimo das escadas e lança o grito de emulação guerreira: proclamou a restauração dos direitos reinantes da Casa de Bragança, chamou às armas todos os transmontanos, enalteceu o fervor patriótico do povo, ordenou a reorganização de todas as forças militares regulares (Regimentos de Infantaria 24 e Cavalaria 12), Regimento de milícias e Brigada de ordenanças e solicitou um contributo financeiro e em géneros a todos os bragançanos

Mas a grande originalidade da revolta em Bragança prende-se com o facto de nessa mesma noite de 11 de Junho, as palavras do general Sepúlveda terem sido passadas a papel, num claro gesto de firmeza, com a afixação de um edital que referia: “«Devendo pelas circunstâncias ocorrentes dar as provi­dencias conducentes á segurança desta província, por se achar sem tropa alguma de linha: faço saber a todos os desertores simples que em nome do Príncipe regente, N. S e Soberano, lhes perdoo a dita deserção, se se juntarem por estes quinze dias á minha presença nesta cidade e á presença do governador de Chaves, naquella praça e no referido termo, para se alistarem nas tropas, que vou formar desde já com officiais, que sahirão da redução passada. Convido também e mando aos que deram baixa na dita redução, venham alistar-se na referida forma, com vencimento de pão e pret que dantes tinham, até superior resolução. Nas circunstâncias supraditas não é preciso mais palavras para entusiasmar os bons portugueses, tendo o exemplo nos vizinhos hespanhoes. Dado no Quartel General de Bragança aos 11 de Junho de 1808. Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda»

Fonte > Revista Militar artigo do
Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada.

  • Notícia publicada na Gazeta de Lisboa sobre a procissão do Corpo de Deus em Lisboa

Em Lisboa, a Procissão do Corpo de Deus é talvez mais magnífica que em alguma outra parte da Cristandade. Assistem a ela, todos os anos, a Corte, o Clero da capital, os Cavaleiros das Ordens Militares do Reino, os Corpos Monásticos e as Irmandades do Santíssimo [Sacramento] das diferentes freguesias desta cidade.

A Procissão decorre na bela Praça do Rossio, as duas magníficas ruas que lhe ficam vizinhas, a Augusta e a Áurea, e a dos Capelistas: todas as casas e janelas deste circuito estão nesse dia armadas de damasco encarnado, de sorte que parecem estar convertidas num vasto Templo, com galerias cheias de espectadores, à roda do qual circula mui religiosamente a mais extensa das procissões.


O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, desejando ardentemente prestar uma nova homenagem à Religião, quis que a dita Procissão, que neste país é uma festividade nacional, se celebrasse este ano da mesma forma e com o mesmo aparato que nos anos anteriores; mas como fosse sangrado no dia precedente, por causa de uma indisposição que lhe sobreviera, devia, em vez de acompanhar a Procissão, assistir a ela da varanda do Palácio da Intendência Geral da Polícia, situado na Praça do Rossio, diante do qual passava a Procissão; portanto, a dita varanda se achava disposta adequadamente para esse fim por ordem do Senhor Conselheiro do Governo, Intendente Geral da Polícia do Reino.

Sua Excelência passou ao Palácio da Intendência Geral pelas nove horas da manhã; e foi ali recebido pelas principais autoridades militares e civis, assim francesas como portuguesas.

A Procissão começou a sair, pelas dez horas, da Igreja de S. Domingos, contínua à Praça do Rossio; e já a frente dela entrava na Rua Augusta, por entre duas alas de tropas.

Por toda a parte se via estabelecida a melhor ordem; e reinava esta entre o estranho concurso dos habitantes, senão quando um terror pânico se apodera da parte do povo que ocupava o meio da Rua Augusta: o medo vai lavrando, e a multidão se abala até à Praça do Rossio, como se estivesse ameaçada de algum grande perigo; falavam uns em movimento de artilharia, por se costumar pôr todos os anos naquela Praça algumas peças, para saudar o Santíssimo Sacramento; e outros imaginavam que havia um tremor de terra; cada um se figura uma causa grave para uma fugida inesperada, e ninguém sabia ainda que só se tratava de um ladrão que acabava de ser preso na Rua Augusta pela Guarda Militar, e que para fugir favorecido pela confusão, gritara que lhe acudissem, ao escapar-se.

Assim que o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes advertiu, do alto da varanda, nesta agitação, que podia tornar-se perigosa em meio de uma tal multidão, deu as suas ordens e desceu pessoalmente à Praça, ao princípio só, mas em breve se viu seguido dos membros das autoridades militares e civis. A sua presença e a sua voz detém, como por uma espécie de prestígio, aquela multidão que por todos os lados se precipitava: “De que tendes medo? grita ele. Não estou eu em meio de vós? Que podeis recear onde eu estou? Sem dúvida há aqui engano, ou insinuação de alguns dos nossos inimigos comuns. Olhai para as minhas tropas que estão à roda de vós! Sede como elas, tranquilos e imóveis!”.

Imediatamente torna a si todo o povo, ficando cada indivíduo no seu lugar, sem que houvesse (o que custará a crer, não obstante ser um facto sabido de toda a capital) outro acidente senão o estarem por terra cinco ou seis pessoas, mas sem dano algum, e uma tão somente ferida, ao cair. Nem um só soldado saiu da sua fileira ou fez uso da sua arma, ainda que alguns tivessem de cair ao chão; todos porém num instante tornaram a ficar na sua posição.

Sua Excelência o General em Chefe passa logo à Igreja, onde se achava ainda a maior parte da Procissão; ali se vê rodeado de uma multidão imensa, que ignorava o que fora dela tinha acontecido, e que deitada aos seus pés lhe dizia em alta vós: Senhor, livre-nos deste perigo! Declara logo Sua Excelência que a sua intenção é que a Procissão prossiga imediatamente; e que para desenganar as pessoas que pudessem crer que havia o menor perigo, ia em pessoa acompanha-la.

Em menos de dez minutos se torna a formar a Procissão com a mais perfeita tranquilidade e o mais piedoso recolhimento; e faz-se com a mesma solenidade que se observara nos anos em que mais brilhante fora.

O Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, sem embargo de estar doente, e apesar do ardor do Sol à hora do meio-dia, não quis aceitar um pálio (dais) que se lhe oferecera; ia só, a pé, descoberto, precedido dos seus Ajudantes de Campo, e seguido das diversas autoridades militares e civis.

Nunca houve ocasião em que Sua Excelência mais conciliasse a atenção do povo, e que visse da parte deste maior interesse e maiores testemunhos de afeição. Parecia que todos o congratulavam daquela inspiração tão rápida e tão judiciosa, que lhe fizera opôr um remédio certo a uma desordem que, a não ser a sua presença e a confiança universal que ela excita, podia ter bem tristes consequências; davam todos mostras de agradecer-lhe o ter livrado do medo e quase de que soubessem do dito acidente as demais partes da cidade, que disso só ouviram falar depois de se ter acabado a Procissão no maior sossego, e sem que a malevolência pudesse já semear a mais leve inquietação pela pronta maneira com que ficara restabelecida a seguridade.

O resto da tarde e a noite do mesmo dia se dedicaram aos passeios de costume, em carruagem, pela Praça do Rossio e ruas vizinhas; por todas as partes ressoavam as expressões do mais vivo reconhecimento, correndo de boca em boca para com o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Duque de Abrantes, cuja admirável presença de ânimo, muitas vezes tão necessária no interior das cidades como nos campos de batalha, acabava de fazer a esta capital um tão importante serviço!

[Fonte: 1.º Suplemento à Gazeta de Lisboa, n.º 24, 17 de Junho].